domingo, 4 de setembro de 2011

A gordura do Estado
Sugar o tutano até à pobreza radical a milhões de contribuintes é um filme gasto e pouco credível.





Não sei quem inventou a expressão mas ela entrou nas narrativas políticas como mel. É capaz de ser, neste momento, a fórmula mais usada para identificar os gastos excessivos do Estado. Retirar a gordura do Estado é uma obsessão do governo. Corre o risco de ter de criar um ministério nutricionista que faça a gestão da coisa. Porém, o diagnóstico é velho. Nos últimos vinte anos, o discurso repete-se com outras variações. Emagrecer o Estado foi outra expressão que, em tempos, se converteu em lugar-comum. Ao fim e ao cabo, quer dizer o mesmo. Precisamos de um Estado esbelto, de curvas bem delineadas, sensual. Porém, as receitas para chegarmos a esse patamar superior da beleza política, escorraçando gorduras, com dietas rigorosas de vegetais, onde pão, carne e peixe são coisa para ricos, têm sempre a mesma fórmula. Começa-se por sugar o sangue aos contribuintes, e as gorduras, alegremente, lá ficam tornando o doente mais doente.

Isto é, o governo precisa de dar com urgência um sinal ao País sobre o corte das adiposidades crónicas. E até agora não o deu. Sugar o tutano até à pobreza radical a milhões de contribuintes é um filme tão gasto e tão pouco credível que só o aceitamos se percebermos que a estrutura do Estado entra em verdadeira dieta severa. Ou seja, que avançam reformas severas na esfera administrativa, na mobilidade de pessoal, na reconversão dos torresmos e toucinhos que se abrigam nos corredores do poder. Dou um exemplo: para aprovar um Plano de Pormenor urbano, são necessários pareceres de vinte e oito (!) instituições do Estado. Coisa que leva, em média, quatro anos a realizar. Conheço uma parte deste labirinto de poderzinhos que habita nos alvéolos mais gordurosos de vários ministérios. Com honrosas excepções, a incompetência domina e a arrogância impera. Consiga o governo reduzir a catorze entidades e tenha a coragem de pôr na rua quem não trabalha e parasita o Estado e pode cantar vitórias dietéticas daqui por mais dois anos. É que é o trabalho fundamental para perder gordura: acabar com a preguiça e correr com preguiçosos. Sem esta coragem, o governo só nos trará mais do mesmo: um Estado mais gordo e flatulento. E a fome do outro lado desta falta de imaginação.

2 comentários:

Lourdes disse...

Pois é Joaquim. Mas quem terá a coragem necessária para correr com os parasitas que proliferam no nosso país?
Esperemos por dias melhores...
Lourdes

Anónimo disse...

Minha nossa senhora nos ajude!..Com uma classe de estado assim,quem vai pagar a fatura certamente serão os nossos filhos,e os noossos netos!..Que futuro vamos esperar de um país assim?..Angelo