domingo, 24 de abril de 2011

De pé, vítimas da fome.

Estamos a viver dias ruins. Tão ruins que a desorientação já é visível e está à beira do histerismo. E da revolta. Da angústia mais aguda e da depressão colectiva.

Por:Francisco Moita Flores, professor universitário


Tão ruins são estes dias que só uma euforia pré-suicidária pode explicar comportamentos tão bizarros como aqueles a que temos assistido, desde os partidos políticos, passando pelos comentadores. Arruinados, à espera do maior aperto de cinto dos últimos cem anos, ameaçados por cortes radicais na esperança, esta Páscoa, que anuncia morte e ressurreição, este 25 de Abril, que em tempos foi esperança, coloca-nos na vigília dos fiéis defuntos. Ainda sem destino. Porque o destino está a ser discutido nos gabinetes pelos homens do FMI e pelo governo, pelos partidos que ainda se interessam por Portugal. Pelos empresários, pelas organizações sindicais. Menos pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda. Demitiram-se de discutir o futuro do País. Recusaram encontrar-se com aqueles que nos chegaram para nos ajudar, embora com calculismo, pois a aflição nacional não diz respeito nem a comunistas nem a bloquistas. Nunca se viu maior exemplo de cinismo político. De inutilidade política. De verdadeira lixeira do resmungo, feita de palavras sempre muito indignadas, muita piedade dos trabalhadores, mas do alto do seu autismo revolucionário demitindo-se da discussão olhos nos olhos com aqueles cuja ajuda pode significar maior dependência, maior perda de soberania, maior indignidade cívica e política. O PCP e o Bloco são isto. A democracia abriga-os e eles repudiam-na, pois, na sua essência, ela exige confronto mais sério do que manifestações e clamorosos protestos retóricos, peitos inchados de palavras tonitruantes, piedosas solidariedades com os trabalhadores, mas agora, que chegou a hora de os defender da sofreguidão capitalista mais dura, dizem não. Que ali não estarão. É a verdadeira cegueira política, o oportunismo mais acabado que reduz estas forças partidárias a verdadeiros párias da própria democracia que, na sua essência, desprezam, sonhando sempre com a desestruturação do Estado e a sempre sonhada ditadura do aparelho partidário, camuflada na velha ideia da ditadura do proletariado.
É certo que amanhã vão surgir de cravo ao peito e sem um pingo de vergonha na alma, aliás, coisa em que não acreditam, reclamando os direitos dos trabalhadores. Que ignoraram no momento mais decisivo das nossas vidas. Do alto da sua pesporrência, ignoram o FMI e as nossas maiores expectativas. Não nos representam. Recusam--se. Nem são nódoas. Apenas um disparate.